A bolha
- Heloisa
- 19 de mar. de 2017
- 2 min de leitura
Sou a bolha 46 segundos mais resistente. E aos poucos, eles se vão. O estresse do dia a dia maquia a realidade. A maquiagem faz com que eu não perceba a dor. Eu sobrevivo. Penso em ti sempre, e agora espero que esteja em meu coração. Me ocupo com as tarefas. Corro de um lado para o outro. Subo. Desço. E finalmente, quando chego em casa, olho para sua casinha, e você não está lá. O coração aperta, entretanto a maquiagem retoma seu efeito, e eu passo. Me sento. Lavo meu rosto. Deixo a máscara cair, junto com as lágrimas. A partir daí me toco. Não estás mais aqui. Sinto sua falta. Ando até sua casinha, e ali paro. Mais precisamente, estou posicionada a diagonal do lugar onde está enterrada. É inevitável minha queda. Desculpe por não ter sido tudo. Desculpe por ter deixado a máscara fazer efeito, a realidade ser escondida. Me perdoe por não ter sido tudo isso. Sinto muito minha companheira. Sentada, abraço minhas pernas. Ouvir músicas tristes já é um hobbie, e hoje, elas fizeram com que eu chorasse muito. E então, as gotas escorrem, as do meu rosto e as da chuva, juntas, frías, em sincronia. E ali eu fico. Observo a chuva. Sinto a brisa leve. E então avisto, duas pequenas bolhas a passear pelo quintal. Juntas elas seguem um caminho, até que uma estoura. Já a outra, continua seguindo, no frio, com gotas caindo a sua volta, ela segue, por 46 segundos, e então estoura. Me enxerguei ali. Enxerguei nós duas ali. Sou a bolha 46 mais resistente, e você minha companheira, infelizmente foi a primeira a ir embora. Te amarei para todo o sempre.
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